“Moro no morro da colina/ Sonho com a liberdade/ O batuque é minha sina/ A paixão não tem vaidade/ Solidão não me amofina/ Vou vivendo de saudade.” (Sem Clemência, do livro Versos Cinzentos, Samuel Barrêto).
Esse texto é para falar sobre vida, mas como diz o grande Fiódor Dostoiévski, “a melhor definição que posso dar de um homem é a de um ser que se habitua a tudo.”, e nesse último ano nos habituamos a conviver com a dor da partida.
Fui convidada por meu amigo, Joaquim a escrever sobre o meu irmão que há um ano partia desse plano físico e cheio de sofrimento, partia fora do combinado, como ele mesmo costumava dizer, com sua vasta alma de poeta, não chamava o nome da morte, e assim foi habituando a todos nós a nomear esse “único mal irremediável” dessa forma.
O poeta Samuel é muito além disso. Para mim ele se apresenta como ‘Miel’, o filho caçula da família, sempre brincando comigo, pois de fato eu sou a caçula; mas para o mundo ele é o poeta, compositor, ativista cultural, radialista, professor, incentivador.
A obra do poeta Samuel Barrêto é vasta, ele ainda tem muito para mostrar, inspirar e ensinar sobre a cultura do nosso estado. Lembro que ele me inspirou a escrever o primeiro projeto científico da faculdade. Eu ainda estava no primeiro período do curso de Geografia. Não foi diferente ao escolher o tema do meu trabalho de conclusão de curso, banhada pela inspiração da sua então recém lançada obra premiada pelo editorial Gonçalves Dias, “A Rua da Golada e sua identidade”, e pela proximidade do meu pai João Barrêto com a história daquela rua, escrevi minha monografia, “NA RUA DA GOLADA GOSTEI DA BRINCADEIRA.” Estudo das espacialidades representadas nas obras de artistas regionais sobre a Rua da Golada. E sempre que posso reverencio a sua obra. Assim foram em todos os meus trabalhos.
Samuel, o meu Miel, sempre foi riso presente para nos dar força pra seguir em frente neste mundo. A sua partida física não limitou o vasto coração, o riso largo, a grande obra, sua poesia, seus feitos enquanto homem imortalizado pelos seus versos, que brotavam de dentro pra fora aflorando toda magia e beleza do mundo em toda sua liberdade poética que ele tanto me ensinou.
Nossas histórias de irmãos são tantas, mas as influencias artísticas acabam marcando, o gosto pela genuína música brasileira, de qualidade, já herdado pelo nosso amado pai, é um exemplo. A fé e a força de nossa amada mãe Ceci Ana é outro grande exemplo. A escrita social, a indignação, a luta pela justiça social, tudo isso são traços que fazem nossos DNA’s se cruzarem e ao olhar no espelho da vida a gente se vê refletido um no outro. Somos continuidade do que nossos pais representam e espero que a gente consiga transmitir às futuras gerações todos esses traços.
Samuel Vive! Samuel, PRESENTE! Viva o poeta que tanto amou o Rio Mearim e sua querida Pedreiras!
Por Raira Maria Jaci de Sá Barrêto , irmã caçula do poeta Samuel Barrêto.