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sexta-feira, outubro 4, 2024

Jotinha cada vez mais Jotinha

Conheci Jotinha Oliveira (PTB) no Olindina e nas raras ocasiões em que nos encontramos, respeito sempre foi nota tônica e continua sendo. A vida e suas esquinas imprevisíveis o conduziram e reconduziram, com 406 votos, ao parlamento municipal em 2020.

Antes de seguir caminho neste ponto de vista, cabe salientar que enquanto jornalista e cidadão pedreirense, o que os parlamentares fazem, decidem e de que forma se mobilizam no exercício do cargo, me interessa. A instância privada de suas vidas deve ser respeitada e preservada. A linha de distinção é nítida.

Jotinha é irmão de Maria do Hélio. Ainda que não comungue de todas a posições políticas dela, detenho-me no reconhecimento do simbolismo de seu protagonismo político, quando não se falava da participação feminina na política. Dos grandes fatos de nossa história recente, Maria do Hélio fez parte, num legislativo que deixa saudades.

O parlamentar também é irmão de Joselito Oliveira, que chegou a ser candidato a vice de Alexandre Assaiante, aposta do Partido dos Trabalhadores (PT) no ano passado. Uma burocracia interna o impediu de seguir adiante, sendo substituído. Ao contrário de Jotinha, Joselito é ativo nas redes sociais e uma das vozes que engrossam o coro dos que gritam: Genocida!

Ao contrário do irmão e a semelhança de seus pares, Jotinha é contido quando o assunto é posicionamento ideológico. Não é de fazer alarde. Gosta de passar despercebido. Prefere, como diz um personagem do ‘Chaves’, “evitar a fadiga”. Caminhou por um tempo com Antônio de França, mas no curso da campanha viu que ficava melhor de laranja, ao invés de azul.

Da base de apoio da gestão de Vanessa Maia (Solidariedade), é um dos mais eufóricos em sua defesa. Aos 32 anos não acredito que faça isso de graça.

Nessa legislatura divide a mesa do Plenário Messias Rodrigues com Katyane Leite (PTB), num antagonismo que cada vez mais se intensifica e mexe no que está quieto. Ao que parece o descompasso entre ambos não é de hoje e remota os bastidores da campanha de 2020. O próprio afirmara em uso da tribuna: “Vossa-excelência, na campanha, me perseguiu demais. Passei mais de 15 dias sem dormir por causa de vossa-excelência”. A seguir a acusaria de perseguição, em decorrência da procura por votos entre seus familiares.

Katyane expôs sua versão, convertendo, de vez, a tribuna em pá.

Quem é o santo da história? Fico com minha sagrada mãozinha, com qual teço este punhado de palavras. Padre José Geraldo deve saber. Aqui discuto política.

Jotinha foi um dos parlamentares expostos em um vídeo que acabou ganhando repercussão nacional. Nele, o parlamentar Emanuel Nascimento (PL) arranca dois microfones das mãos de Katyane – mas poderia ter sido o de Valdete Cruz, Iaciara Rios, Anajara Quineiro e Marly Tavares. Para além das cenas que exalam o pútrido machismo que povoa o parlamento, nada mais político e emblemático do que o riso, quase imperceptível, de Jotinha. Sua quietude (omissão) foi um gesto político, mas o seu riso canto de boca é o que mais diz sobre ele. E a pergunta que faço é: teria uma atitude diferente se a vítima fosse uma parlamentar do campo governista? Jotinha é aquilo fora da ‘casa do povo’?

O próprio responde:

“Lamento o ocorrido que teve com o sobre colega Emanuel, uma pessoa que tenho grande respeito, grande apreço. Caso isolado entre ele e a vereadora Katyane”. Jotinha, incorporando Pilatos, diz: “Vereador Jotinha não tem nada com isso”.

Ouvir essa parte foi dolorosa. Sua fala, que não é isolada e a julgar pela não reação de parte dos parlamentares, retrata o pensamento dos que enxergam a violência política com tamanha naturalidade.  Acredite, existem outros. Jotinha tem companhia nessa sanha que se solidariza com o agressor. Tanto a quietude, quanto o riso e a fala de ontem, mostram que Jotinha está no lugar errado e no segundo mandato ainda desconhece o sentido pleno da palavra política. Seu ato macula um átrio maior do que as desavenças. Seu riso machuca um preceito elementar da política: “Tenho a ver com isso”.  

Quando ele diz que o fato não lhe diz respeito e por isso não se mete, confunde a casa do povo com o quintal de casa, onde de fato o que ocorre do outro lado do muro não é de sua conta (se for violência contra mulher, importa sim, em qualquer lugar). Ao dizer “não tem nada com isso”, Jotinha passa um recado triste, em especial para as mulheres, inclusive àquelas que fazem parte de sua vida. Sua ação é condicional. Sua luta é condicionada a vínculos diretos e interesses. O que pode esperar-se de um parlamentar que só age quando determinado fato lhe tem a ver? Ao que parece, Emanuel poderia ter esmurrado a parlamentar e sob o argumento de não ter nada a ver Jotinha permaneceria em paz e levemente sorridente. Ele não deveria estar ali, como tantos.

Jotinha, Emanuel e os outros não caíram de paraquedas na câmara. Estão lá em virtude da chancela de parte da população. Logo, entendo que a ‘casa do povo’ é um recorte nítido dos desvios sociais e reprodutora das opressões, incluindo as de gênero. Irônico é que isso ocorra na “democracia representativa”. Num lugar recentemente dedetizado por conta da pandemia, muita gente, além do vírus, não deveria estar ali.


A fala de Jotinha e de seus pares pode ser vista no vídeo da transmissão da sessão do dia 20 de outubro de 2021, no caso do parlamentar, a partir de 2:04:26 em: https://youtu.be/BEXTuvPMuVg

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Joaquim Cantanhêde
Joaquim Cantanhêdehttp://www.opedreirense.com.br
Jornalista formado pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
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