O cenário incerto das eleições municipais acompanha, dentre as muitas surpresas, a intensificação do debate político nas rodas de conversas e grupos de WhatsApp. Neste ano de 2020, em meio a rumores de possíveis alianças políticas, a legitimação de seis pré-candidatos ao cargo de prefeito durante as convenções partidárias em Pedreiras, Maranhão, surpreendeu tanto quanto a escolha dos pré-candidatos a vice que até aquele momento se achavam distantes de um cargo político.
O “Pedreirense raiz, de Trizidela do Vale”, como se descreve Joselito Oliveira, anunciado durante a convenção do Partido dos Trabalhadores, como pré-candidato a vice-prefeito, é reconhecido principalmente pelo título de professor, por ter lecionado durante dez anos na escola Olindina Nunes Freire. A graduação em engenharia civil, nos anos 80, foi o caminho para iniciar na militância política, que em meio a essas andanças, precisamente em 2018, após participar do movimento “#EleNão”, em apoio ao ex-candidato a presidência Fernando Haddad, voltou a filiar-se no maior partido da esquerda brasileira, o PT.
Em entrevista ao O Pedreirense, Joselito Oliveira vestido pela cor (vermelha) de seu partido, elenca os motivos que o levaram a aceitar o desafio de atuar de forma mais ativa na política pedreirense ao lado do pré-candidato a prefeito Alexandre Assaiante. “O PT está ressurgindo”, comenta ao ser questionado sobre a grande insatisfação da população ao partido nos últimos anos. Pelo recorte de quem vivenciou o dilema das cheias do Mearim durante grande parte da infância, junto aos pais e dez irmãos, Joselito reafirma sua pré-candidatura garantindo aos eleitores que: “um mundo novo vem para nós”.
O Pedreirense: Quem é Joselito Oliveira?
Joselito Oliveira: Eu sou pedreirense raiz, de Trizidela do Vale. Sou um ex-professor, com 10 anos de magistério. Sou engenheiro civil, tenho 55 anos, com uma grande família linda que me orgulho muito. Estou aqui na missão de ser o vice-prefeito da cidade de Pedreiras com um único objetivo: trabalhar por Pedreiras.
OP: Como iniciou sua relação com a política?
JO: Eu comecei na política em 1984 quando eu entrei na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) lá em São Luís. Eu fazia Engenharia Civil e já no meu segundo ano comecei a participar do movimento estudantil, que, aliás, era muito forte. Naquela época ainda não tinha PT, a oposição chamava-se MDB e eu comecei a acompanhar o MDB de longe, já com aquele sentimento de mudança. Daí quando eu me formei, voltei para Pedreiras e fui trabalhar como engenheiro e como professor na escola Olindina. Lá eu conheci toda a turma do PT daquela época e participei da campanha do Henrique, para prefeito em Pedreiras. Fui um dos dois coordenadores financeiros da campanha e não tinha dinheiro, mas tinha dois coordenadores e fiquei PT por muito tempo. Em um determinado ano, não me recordo agora, larguei a questão de partido político. E retornei nessa campanha do Haddad à Presidência. Fizemos um movimento grande na avenida chamado “Ele não”, mas que depois começaram a chamar de parada gay, porque o movimento foi bem livre mesmo todo mundo se expressou, homem beijou em boca de homem, quem gosta de beijar, mulher beijando em boca de mulher. Foi mesmo a festa da democracia, mas os conservadores ficaram com ódio da gente. Depois dessa campanha do Haddad eu fui convidado para me filiar em dois partidos: o PT e o PSB. Acabei escolhendo o PT.
OP: Como se chegou à escolha de seu nome para o cargo de vice-prefeito? Você já esperava?
JO: A mais ou menos uns seis anos venho sendo sondado para ser candidato a prefeito de Pedreiras. Já fui procurado por outros partidos, mas nunca aceitei essa missão, porque eu acho que essa é uma missão sagrada: cuidar de um povo. Então não adianta eu me unir com alguém só pra ser mais um alguém, então nunca aceitei. A nossa cultura política precisa melhorar e muito. Quando lutamos, na campanha à presidência, para eleger o Haddad e tirar aquele filho das coisas ruins (Bolsonaro), eu me engajei muito nessa campanha, então me chamaram para ser candidato a vice-prefeito de Pedreiras e aceitei. Dentro do partido houve uma busca de uma aliança e eu sempre discordei porque não adianta a gente se aliar para ser igual, a gente precisa ser diferente.
OP: A informação de que o atual prefeito teria o indicado como vice do pré-candidato Alexandre Assaiante reverberou. Esta informação confere? Qual sua relação com o atual prefeito?
JO: É mentira! Só troquei duas palavras com o prefeito agora, em uma reunião, pela primeira vez na minha vida.
OP: O PT passou por um período de insatisfação popular durante as manifestações que levaram ao impeachment da ex-presidente Dilma em 2014, e isso se intensificou nas eleições a presidência. Pra você, esses acontecimentos podem influenciar na eleição municipal de Pedreiras?
JO: Eu acredito que essa insatisfação diminuiu muito. A interferência era grande. O PT já esteve com o nome mais sujo possível dentro da política brasileira e isso aos poucos tem melhorado. Se está descobrindo que o PT foi vítima desse processo que está acontecendo aí, onde queriam botar no poder os opressores, e o PT está sempre defendendo os trabalhadores, então criou-se esse PT: ‘o partido que rouba’. ‘O partido da corrupção’, e vendeu isso bem vendido quando um juiz corrupto e mentiroso prendeu nosso líder maior, para ele não participar das eleições. Então o PT agora está ressurgindo.

OP: A política ela é principalmente movida a desafios. A organização de uma cidade, pelo bem comum de todos, é um processo que para alguns, chega a ser considerado impossível. Você consegue visualizar qual será o maior desafio em seu mandato, caso seja eleito?
JO: O grande desafio da política é a corrupção. Somos culturalmente corruptos. Somos induzidos a sermos corruptos. O sistema obriga a gente a sempre se corromper pra não combatermos ele. São os impostos abusivos, tudo como uma forma de viver no meio dessa corrupção cultural para que ela sustente esse povo no poder. O grande desafio de qualquer pessoa que entra numa vida pública é a corrupção, porque ela é cultural. É não dar o dinheiro que o eleitor te pedir e dizer: ‘cara, eu quero construir uma vida para o teu neto’. Então nosso desafio maior é combater a corrupção.
OP: Há um caminho que para combater a corrupção?
JO: Existe. A punição. Se a gente punir de verdade muda, mas se não punir não muda.
OP: Se a estrutura está armada para corromper, o que o Joselito vai fazer lá?
JO: Destruir essa estrutura, e vou, tenho certeza, correr o risco de me destruir, porque as ciladas são grandes. Tenho uma esposa e duas filhas e tenho certeza que o jogo lá não é fácil, mas me propus a isso e não irei me acovardar. Sei que o jogo é rasteiro e muito perigoso, mas espero contar com toda garra do Alexandre pra virarmos esse jogo e mostrar para as pessoas mais humildes que é possível ser feliz, que é possível mudar. Isso é da história do Brasil, em nossos 100 anos de Pedreiras, sempre os mesmos grupos vem e no próximo mandato a gente ainda vota pra eles de novo, mas eu pretendo chegar lá e deixar minha marca.
OP: Muitos consideram o vice, uma “mão esquerda” do prefeito. Aquela mão que não trabalha tanto quanto. O que o caracterizaria como a “mão direita” do prefeito?
JO: Acho que minha empolgação, conta muito. Não quero tirar nenhuma vantagem, vou ser o “piolho” que vai “encher o saco” do Alexandre, porque vou cobrar. A minha tendência é ser a mão esquerda, direita e preparar todo esse caminho para que Pedreiras seja feliz, esse é meu sonho.
OP: Como você visualiza o atual cenário político em Pedreiras em relação a atual gestão?
JO: O prefeito chegou a dizer que não iria mais concorrer. Acho que seria a atitude mais nobre dele. Eu penso que a pessoa deve pedir para ser reeleito quando ele deixa uma marca, até o povo pede, o que não foi o caso do nosso prefeito. Ele foi péssimo. O máximo que ele poderia fazer era dizer: “estou fora”. O pedreirense, se ele voltar o prefeito à prefeitura, está dando carta branca pra ele fazer o que quiser. Nunca entrou tanto dinheiro na prefeitura como nessa gestão e não tem nada, eu acredito que ele deveria se tocar e sair da política. A parte dele ele já fez e fez mal feita.
OP: Caso seja eleito, quais propostas apresentará a população?
JO: Eu sou engenheiro. Um engenheiro faz ponte, estrada, escola, hospital, saneamento básico, meche com o meio ambiente. Então o que eu tenho é proposta. Não quero que nossa prefeitura solte foguete, porque estar tampando buracos ou pavimentando a rua. Eu quero trazer desenvolvimento, escola de qualidade, acabar com a “marcha das ambulâncias”. O cidadão pedreirense merece ter bem estar, ele merece ser feliz.
OP: O PT é considerado o maior partido da esquerda brasileira. A esquerda que levanta bandeiras em defesa de causas sociais. Há uma bandeira específica que Joselito defende?
JO: Eu levanto todas as bandeiras, a bandeira LGBT, a bandeira do negro, do índio. Defendo todas as bandeiras, porque acho que esse povo precisa ser considerado gente igual a gente e ser feliz. Nosso país é muito ultrapassado. Temos que vencer isso. Chega da religião querer mudar a constituição, todo mundo tem o livre arbítrio e todo mundo tem o direito de ser feliz e a constituição garante. Se eu quero ser gay, eu tenho o direito de ser gay onde eu estiver, se eu for negro as portas tem que se abrir para mim em qualquer lugar. Minha principal bandeira é Cristo, mas um Cristo verdadeiro que diz: “ama teu próximo”.
OP: Política para você é uma profissão?
JO: Não. Eu nunca vi isso como profissão. Sou muito contra um político se aposentar. Ele não tem direito, ele não é um profissional. Ele é um voluntário que entregou o nome dele para ajudar o próximo.
OP: O que você espera para os próximos 45 dias e caso seja eleito que mensagem fica para a população?
JO: Durante esses 45 dias, que a população tome consciência. São quatro anos que irão decidir não somente a vida de quem está aqui agora, mas daqui a 50 ou 100 anos, quatro anos decidirá. Isso pode ser um novo recomeço para o pedreirense. Pode ser uma vida nova para os nossos filhos e para os nossos netos. Depende de como o eleitor irá escolher. Está sendo dada uma nova chance para o pedreirense de ter uma qualidade de vida melhor e se ele de novo escolher errado, irá padecer por mais quatro anos. Caso a gente seja eleito eu te garanto que um mundo novo vem para nós.

Por: Mayrla Frazão
Entrevistas foi ótima!! as Fotografias ficaram show!!!! Parabéns!!!