São 133 anos de tradição. Sobre os ombros, a comunidade Santo Antônio dos Sardinhas, localizada no município de Lima Campos, interior do Maranhão, carrega manifestações culturais de sua religiosidade, dentre elas, o mastro, símbolo fálico anualmente conduzido pelos homens em honra a Santo Antônio. Uma cerimônia centenária com traços da ancestralidade africana e do catolicismo, marca um dos festejos mais tradicionais da região, que neste ano de 2021, sem a cautela de atravessar a pandemia da Covid-19, volta a ser comemorado como de costume, reunindo centenas de pessoas, parte delas, visitantes por aí a fora.
A preservação da tradição, do território e a união da comunidade são aspectos que ostentam a singularidade da raiz de um povo, sem perder suas origens no tempo da modernidade líquida, dar continuidade à tradição é um dos principais objetivos desta celebração. “Nós queremos passar para todas as crianças, lembrar dos nossos antepassados, dos mais velhos que brincavam esta festa e deixaram para nós. Hoje damos continuidade e para nós é muito importante saber que as pessoas podem prestigiar. Dão valor à brincadeira”, afirmou José Wilson Rosa, conhecido como Neném.
A caminhada de 4km, que conduz o mastro até a igreja de Santo Antônio, não impediu que seu Anicete Rosa, de 82 anos, mais velho membro desta celebração, percorresse o trajeto. Embora o joelho já não correspondesse às suas vontades, o desejo de festejar fora maior. “Muita saúde, felicidade. Essa tradição eu cheguei e já encontrei e fico muito feliz de ser o mais velho deste lugar”, contou seu Anicete, enquanto caminhava, arrastando a perna direita, em direção à igreja de Santo Antônio.
A caminhada findou no início da noite, a comemoração aconteceu dentro da capela em frente ao altar do dono da festa, Antônio, enquanto os últimos ajustes para erguer o mastro eram reforçados. Do lado de fora a comunidade, em meio a cânticos, danças e o esforço braçal dos homens para erguer o mastro, acontecia a abertura oficial do 133° festejo de Santo Antônio.
Para muitos fiéis, que não puderam celebrar o padroeiro ano passado, por conta da pandemia, este ano a felicidade veio em dobro pelo ano difícil que a população enfrentou no ápice da Covid-19. “Foi difícil para mim, ano passado e ano retrasado também, pois perdi um irmão, mas nesse ano me deu aquela vontade e hoje estou aqui, com muita alegria”, enfatiza dona Maria Soares Baima, 76 anos.
Durante o festejo, nos próximos dias, acontecerá a novena, que é quando a comunidade se reúne para visitar e rezar nas casas, umas das práticas da religiosidade destes fiéis.