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Quem quando criança não teve que abrir a boca, à força, para recepcionar a colher com um líquido quase sempre amargo, vulgo lambedor? Saía rasgando tudo da garganta em diante. Se você foi menino (a) criado (a) por vó sabe do que falo. Em um cantinho da geladeira de dona Luzia havia sempre uma garrafinha de refrigerante com desvio de finalidade. Nas voltas que a vida dá, crescido, quando a catarro badalava, era pelo lambedor da velha Luza que buscava.
Comuns, especialmente em regiões campesinas, os lambedores são parte do que popularmente chamamos de remédios do mato. Com finalidades distintas, trazem em sua composição ingredientes diversos, incluindo folhas, caules e sementes.
Em uma cidade como Pedreiras (MA), abarrotada de farmácias, há quem ainda, mantendo tradições, prefira o remédio do mato. Outros, mais espertos, acabam apostando nos dois. Esse é o perfil da clientela de seu Euclides Menezes, que se define com raizeiro. Em sua banca trata-se de tudo: gastrite, problemas de respiração, garganta inflamada e tantos outros males. Não se admire se houver xarope até para feiura.
Nada de chegar pedindo dipirona, dorflex e derivados. Na longa lista de produtos oferecidos as cascas imperam. “Tenho muitos tipos de raiz aqui. O que vende mais é a da aroeira, angico, pau-d’arco roxo, jatobá, janaúba…”. Como disse, a lista vai longe.
Seu Euclides, também pedreiro, é natural de São João do Rio do Peixe, na Paraíba. Sob influência dos familiares, que já moravam em Pedreiras, migrou em busca de uma melhor condição de vida, para além da roça.
De uma rotinha que começa às 6, consegue o sustento da família, incluindo seus 4 filhos. “Eu não quero sair do mercado”, diz seu Euclides, em reconhecimento ao seu sagrado espaço de trabalho. Lá se vão 32 anos.
Fotos: Joaquim Cantanhêde