O empreendedorismo sempre esteve presente ao longo da história do Brasil, das tribos indígenas à chegada do capitalismo. Mas o seu fortalecimento deu-se a partir da década de 90, após o impulsionamento da economia que possibilitou a abertura de entidades de incentivo a Microempreendedores (MEI), como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), que fomenta a criação de novos negócios através da capacitação de pessoas para o mercado de trabalho.
Durante muito tempo a palavra empreendedorismo fazia referência ao papel do homem no âmbito empresarial, mas muitas mulheres já ocupavam o mercado com vendas independentes, seja em bancas em locais públicos, seja com pequenas vendas na própria residência. Atualmente, o Brasil aparece em 7° lugar entre os países com maior participação feminina no mercado de trabalho. São cerca de 24 milhões de mulheres (Micro) empreendedoras, segundo dados do último relatório especial do SEBRAE.
A especialista em economia criativa, Sandra Mara afirma que os fatores que levam uma pessoa a empreender varia entre a necessidade e a vocação, o que possibilita a muitas mulheres unirem o útil ao agradável. Entretanto, um outro fator surge em meio a este cenário: o empoderamento feminino, que desperta em muitas mulheres o desejo de uma independência financeira, parte deste processo, consequência do movimento feminista que luta pelo espaço, a justiça e a igualdade das mulheres na sociedade.
Em Pedreiras, Maranhão, cidade com um forte polo comercial, a presença de MEI’s e empreendedores informais impulsiona a economia, mas a falta de incentivo, é um desafio ao empreendedorismo feminino. “Aqui em Pedreiras temos muitas dificuldades em relação a incentivo a pequenos empreendedores, tanto o trabalho em si, quanto a oportunidade para as pessoas, porque tem muitas empresas que podem ajudar através de cursos, palestra, pessoas que precisam, e aqui acho que deveria ter”, ressaltou a empreendedora Tainná Dilla, dona da Criativithaty.
Segundo a Gerente Regional do SEBRAE Bacabal, Maria Cecília Salata, “a cidade de Pedreiras é um dos 28 municípios que são atendidos pela Unidade Regional do SEBRAE que está em Bacabal”. A atuação do SEBRAE em Pedreiras acontece anualmente, com foco no fortalecimento do empreendedorismo e na aceleração do processo de formalização da economia. Devido à pandemia, não houve a execução de ações coletivas presenciais, somente de forma remota.
RELATOS DE MULHERES EMPREENDEDORAS
Ser mulher, mãe, estudante e empreendedora. Esta é a rotina diária de milhares de trabalhadoras que decidem trilhar pelo caminho do empreendedorismo, para conseguir a pretendida independência financeira. As jovens empreendedoras Mayra Dhandara, Tainna Dillas e Flaviane Viana, em entrevista ao portal O Pedreirense, ressaltam os desafios e as conquistas de empreender sem sair de casa.
Flaviane Viana da Silva, 21 anos, dona do Bendito doce
“Eu e meu noivo decidimos empreender quando retornamos para Pedreiras. Estávamos morando em Brasília há dois anos e quando decidimos voltar buscamos uma coisa nova pra fazer sem ser trabalhando pros outros, mas sim trabalhar pra gente. Pensamos em vender roupas e outras coisas, mas acabamos fazendo doces porque eu gosto de fazer doce. Então abrimos o “Bendito doce” e trabalhamos com a produção de bolos de pote e salada de frutas, que é nosso carro chefe.
Meu empreendimento é minha renda oficial, pois não trabalho fora e eu até prefiro assim por conta do meu filho que posso ficar com ele em casa, sem contar que somos nosso próprio chefe e fazemos nosso próprio horário.
Nosso empreendimento tem apenas oito dias, chegamos de Brasília semana passada e já começamos, compramos os materiais e desde esse dia não paramos mais, só crescendo. Investimos todo nosso dinheiro pra comprar os materiais e em oito dias já cobrimos tudo que gastamos e está valendo muito a pena.
Foi uma das melhores escolhas que fizemos, pois estava doendo meu coração só de imaginar ficar longe do meu filho para ir trabalhar. Aqui consigo conciliar e estamos nos adaptando à rotina aos poucos. Minha mãe ajuda e me incentiva diariamente, cuida do meu filho, ajuda na produção dos doces.
Para mim, o cenário da mulher empreendedora deve ser visto normalmente, pois assim como meu marido pode abrir um negócio eu também posso. Sou tão capaz quanto ele e isso pra mulher é muito importante, pois ela consegue uma instabilidade e dependência financeira. O empreendedorismo feminino é isso, abrir as portas da nossa independência”, finalizou Flaviane.
Mayra Dhandara Frazão de Lima, 25 anos, é estudante de Moda e Arquitetura e dona do EME Brexó
“Resolvi abrir o Eme Brexo, em 2019, primeiramente porque precisava de uma renda para custear meus estudos, uma vez que fui morar fora para estudar arquitetura. Sempre tive vocação e amor pela moda, e eu credito que quando as duas coisas se complementam, tudo flui naturalmente.
No inicio não foi nada fácil, o primeiro desafio que enfrentei foi o preconceito da sociedade em utilizar roupas de segunda mão, mas com o tempo fui desconstruindo esse olhar e trazendo um viés de inovação e sustentabilidade aliado ao marketing. Durante esse trajeto de quase dois anos do Eme Brexo encontrei muitas pessoas que me ajudaram, por isso busco sempre, com a minha marca, ajudar outras pessoas.
Eu acredito que quando temos uma empresa devemos ter responsabilidade social empresarial, não se preocupar apenas com lucro, mas com a sociedade como um todo. Pensar no pós-consumo. Por isso nossa empresa apoia microempreendedores locais e temos projetos socioambiental como EME Recicla.
O empreendedorismo me fez perceber que sou capaz de conquistar, buscar e inovar cada dia mais, trabalhando pra mim mesma. Posso dizer que foi uma das escolhas mais importantes da minha vida e pretendo permanecer nesse caminho”, finalizou a jovem empreendedora.
Tainná Dilla Borges, 29 anos, é Designer e dona da Criativithaty
“Eu passei a empreender depois de ver meu tio pintar camisetas pela primeira vez quando era criança. Eu ficava apaixonada querendo aprender e fazer. Sempre pedia pra ele me ensinar, mas ele não tinha tempo. Quando completei 14 anos comecei a me arriscar na pintura. Estraguei muita camiseta de amigos (risos), com o tempo fui aprendendo e hoje tenho meu próprio empreendimento.
Por mais que a atuação da mulher empreendedora tenha aumentado ainda considero pouco, em relação aos homens. Mas isso motiva outras mulheres a tentarem e se arriscarem. Toda mulher precisa ser independente financeiramente. Você precisa se arriscar e fazer algo por menor que seja, é importante. Agora que a Criativithaty está pegando rumo, após anos trabalhando, mas só agora as pessoas estão conhecendo mais, graças ao marketing das redes sociais.
Graças ao auxilio emergencial, consegui investir bem mais no meu negócio. Aqui em Pedreiras é muito difícil encontrar produtos na área artesanal, então temos que comprar fora. Graças a Deus minha família me incentiva e me apoia bastante. Sou formada em Designer e futuramente pretendo me especializar em Designer de superfície.
Quero chegar mais longe, não por mim, mas pelo meu filho. Eu não quero depender de ninguém, nunca gostei disso. Hoje em dia faço tudo pelo meu filho, porque eu quero dar o melhor pra ele. Minha rotina de trabalho é na madrugada por conta do meu filho. Eu começo às 21h da noite e termino às 04h da manhã. Quando não tenho nenhuma encomenda eu faço camisas pra ficar de reserva, de domingo a domingo.
Eu fico muito feliz quando recebo um dinheiro das mihnhas vendas, invisto novamente e quando dá eu compro alguma coisa que preciso, é muito bom. Por isso quero que um dia a Criativithaty venha ajudar outras pessoas que querem empreender, ensinar o básico do que eu posso fazer por outra pessoa.”
Por: Mayrla Frazão