A memorável subida no morro do Alto São José em direção ao cemitério central, localizado em Pedreiras, Maranhão, marca uma data que é tradição na cidade: o dia 02 de novembro, em alusão ao Dia de Finados. Dentre as muitas práticas dos fiéis, a tradição das velas e coroas de flores como símbolos de homenagem a parentes e amigos que já se foram, movimenta a economia de donas de casa, vendedores ambulantes e jovens em busca de uma renda extra durante o feriado.
No período da manhã as visitas nos principais cemitérios da cidade foram reduzidas, o que ocasionou uma queda das vendas de coroas e velas, em relação ao ano passado. Dona Raimunda da Silva Bezerra, que trabalha com vendas de alumínios no mercado central, conta que há 20 anos, próximo do Dia de Finados, inicia as confecções de coroas e consegue uma boa renda, mas neste ano foi diferente. “Não me deu lucro, me deu prejuízo, pois vou pagar somente o dinheiro que pedi emprestado e o lucro foi bem pouquinho mesmo”, relatou dona Raimunda no final da manhã.
A crise na economia também foi o passo para que muitos trabalhadores aumentassem os valores das coroas em relação ao ano passado. Em todo o Brasil, produtores de flores naturais projetaram o aumento de preços neste setor devido aos efeitos da pandemia na economia, segundo pesquisas do Procon. Em Pedreiras, grande parte dos produtores realizam as confecções com flores artificiais, apesar disso, houve aumento. O vendedor Messias Fonseca, de 62 anos, conta que, realizou uma venda razoável, por estar localizado na avenida central (optaria por principal) da cidade. “O aumento foi de cinco reais. Todo mundo passa por aqui, então estou vendendo bem”, finalizou.
Muitos jovens também comercializam coroas neste período, anualmente, são eles que constroem o cenário de vendas em todo o morro do Alto São José, mas neste ano também foi diferente. Sentada na porta de casa, próximo ao cemitério central do Alto São José encontramos a jovem Vitoria Fernandes, 15 anos, que ajuda a avó nas vendas desde pequena. Ela nos conta que apesar de ganhar uma renda extra, considera um dia muito triste. “Desde que nasci minha vó me passou essa tradição, pensamos em não fazer por conta da pandemia. Neste ano o dia ficou ainda mais triste, mas sempre temos o ânimo de vender.”, contou Vitoria.
Dos mais novos aos mais experientes neste ramo, dona Rosalina Francisca de Sousa, de 78 anos, se prepara para mais um ano de vendas. Ela que desde 1976 comercializa coroas de flores no feriado, somente no período da manhã, sentiu que apesar do pouco movimento de pessoas nos cemitérios, conseguiu uns trocados. “Agora as coisas estão fracas, mas todos os anos eu vendo. Da pra ganhar um trocadinho”, comenta com empolgação.
A coroa de flor, para muitos fiéis, é o principal símbolo de homenagem deste dia, como ressalta dona Maria Ilda, de 60 anos, que cedo da manhã arrumou a sepultura em que está enterrado seu pai, sua mãe e sua filha, que faleceu com 31 anos de idade. “É muito importante! Como não convivemos mais com eles precisamos desse momento e a cada dia renova mais. Logo cedo comprei a coroa, arrumei e rezei”, contou dona Ilda.
Dia de Finados e a (con) tradição ideológica
Celebrado pela igreja católica anualmente, o Dia de Finados tornou-se uma tradição no Brasil para milhares de fiéis. Há séculos a data fora efetivada e se transformou em um feriado voltado para lembrar e homenagear àqueles que já partiram. Dentre os rituais deste dia, a tradicional missa, a reza e a saudação aos mortos nem sempre são aceitas por parte da comunidade cristã.
Anualmente durante o feriado, a igreja Batista Renovada de Pedreiras, realiza, próximo ao cemitério do Alto São José um momento de evangelização. De acordo com a Missionária Débora de Fátima, é um momentos de conversar com os vivos e não com os mortos. “Todos os anos estamos aqui no cemitério trazendo o Ide de Jesus. Neste dia difícil nós estamos aqui para trazer a vida e a vida é Jesus. Nós temos o entendimento de que todas as pessoas que vão morrer passarão por um julgamento, por um juízo. Estamos aqui para falar com os vivos, pois na nossa religião a gente se importa com aqueles que estão vivos porque eles podem chegar à salvação”, concluiu a missionária.
Quem um dia morreu construiu uma história ao lado pessoas, celebrou a vida, deu vida e foi amado. No Dia de Finados, familiares dedicam o dia à memória para que não se esqueçam dos momentos vividos. “Tem meu pai, minha irmã, meu filho, tio. Não se esquece nunca, nesse dia é um momento para lembrar”, contou dona Laura dos Santos de 84 anos
Durante a missa dos Bem-Aventurados, ministrada pelo padre José Geraldo, pároco da igreja São Benedito, uma mensagem: “a pior morte não é a física, é a morte em Deus. Precisamos nos policiar, precisamos cada vez mais estar atentos porque não temos momentos para despedidas. Hoje nós subimos aqui e vamos retornar tranquilos, eles subiram aqui e permanecem aqui“, relatou o padre durante a ministração da missa dos Bem- Aventurados.
Por: Mayrla Frazão