Com o enigma da Esfinge de Tebas do antigo mito grego, começo esse texto pra falar de Bolsonaro, epidemia, bolsonarismo, CPI, Lula e Democracia.
Ou nós deciframos Bolsonaro ou ele vai nos devorar. Ou derrotamos o bolsonarismo ou seu negacionismo afundará ainda mais o Brasil no caos epidemiológico.
A CPI da Covid está demonstrando diversos crimes do governo Bolsonaro, no entanto, todo dia ele nos brinda com frases dúbias, jocosas e muitas vezes golpistas. Mas não nos enganemos, tudo isso é proposital para desviar o foco da imprensa e da oposição daquilo que é mais importante – descobrir todos os desmandos e crimes do governo federal na pandemia do covid-19.
Bolsonaro é desprovido de uma inteligência mais sofisticada que desconhece literatura, música, teatro e todas as manifestações culturais. Na verdade, ele tem verdadeira ojeriza pela cultura. É desprovido também de sensibilidade social, basta analisarmos sua postura durante toda a pandemia. No entanto, ele e sua trupe não é burra. Ele sabe que hoje sua principal fragilidade são os desdobramentos possíveis da CPI comandada por Omar Aziz (PSD) e que tem como relator um opositor declarado, Renan Calheiros (MDB).
Por isso, a todo momento inventa crises e solta frases absurdas com o intuito de pautar as notícias a partir da problematização dessas falas, e assim as mentiras contadas por membros do governo na CPI ganha menos importância no noticiário.
Para se derrotar o bolsonarismo, que inclusive é maior que seu criador, é preciso antes entender sua lógica política, que é – Bolsonaro só sobrevive nas crises. Seu eleitorado mais fiel precisa constantemente de um inimigo comum, seja ele real ou imaginário. Dessa forma, o mandatário cria sempre os inimigos do dia, da semana e do mês, que em dado momento foi o Centrão e hoje se concentra na China, PT e no STF, sem falar do comunismo fantasioso que essa narrativa diz querer transformar o Brasil em Cuba ou Venezuela.
Dentre todos esses inimigos de Bolsonaro, dois são reais e tem potencial de minar sua reeleição, um é o PT que com a possibilidade do Lula ser candidato com toda sua expertise e popularidade, principalmente nas camadas mais populares, se torna uma corrente forte que pode derrotar o bolsonarismo. Outro inimigo real é a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que tem tudo pra deixar cada vez mais claro a irresponsabilidade do governo federal na condução da crise sanitária no Brasil.
O relatório de Renan Calheiros, ao que tudo indica, será devastador para os responsáveis da má gestão ao enfrentemanto do coronavírus no governo Bolsonaro. Por isso, o governo gasta tanta energia com seus aliados, eleitores e com as fake news para descredibilizar a CPI. Isso ocorre, principalmente, pois o alto escalão do palácio sabe do potencial explosivo desse processo de investigação, que no final pode resultar em prisões de governistas.
Outra grande aposta dos bolsonaristas, além das fake news, é minar a credibilidade do sistema eleitoral. Na verdade, eles sabem que o sistema atual de votação e contagem dos votos é confiável, mas sabem também que é eminente a derrota, por isso apostam alto na desinformação.
Quem presa por liberdade de imprensa, por democracia, por fortalecimento das instituições de combate a corrupção e por fim pela democracia, sabe da necessidade eminente de se combater e derrotar o bolsonarismo. No entanto, essa tarefa não é tão fácil como alguns possam pensar, mas é possível, já que a maioria dos brasileiros não pensam como essa claque, odiosa e preconceituosa. Mas infelizmente, esse grupo sabe encontrar a fragilidade dos egos, os medos obscuros de boa parte da população e juntamente com a desinformação pode causar estragos ainda maiores na nossa frágil democracia.
É portanto, ante de mais nada, combater o bolsonarismo com informação e focar naquilo que é mais importante no momento, a CPI que de maneira cabal vai demonstrar a todo povo brasileiro a negligencia e os crimes desse governo.
No final, não vamos ser devorados pela esfinge do bolsonarismo. Já sabemos a resposta do enigma – informação e luta social.
Por Jaime Ribeiro Lopes, professor de Geografia e militante do Partido dos Trabalhadores (PT)