Manhã de segunda-feira, 31 de agosto de 2020, moradores da Rua da Corrente, localizada no bairro do Diogo em Pedreiras, Maranhão, bloqueiam parte da MA-381, após atearem fogo em “entulhos”, como forma de protesto por melhorias na infraestrutura de parte da via que dá acesso ao Instituto Federal do Maranhão (IFMA) e liga Pedreiras ao município de Joselândia. Durante o movimento, os moradores ergueram suas vozes expressando as dificuldades que enfrentam diariamente pela poeira e indagaram, com revolta, as inúmeras promessas feitas pela atual gestão do prefeito Antônio França.
Em protesto, os moradores reclamam principalmente da poeira, que durante o verão prejudica, não somente a saúde da população, mas a rotina. “Minha mãe é operada do olho, meus filhos estão todos gripados e aqui a gente dorme com poeira e acorda com poeira. Os pratos de comer, camas e guarda roupas, tudo cheio de poeira. Não estamos suportando mais”, relatou a dona de casa Maria da Paz, de 43 anos.
Em meio a movimentação encontramos a agente de saúde, Francineide Silva,42 anos, também prejudicada pela falta de infraestrutura do bairro. Ela reitera a luta por direitos básicos como dignidade. “Prejudica a saúde da criança e do idoso, a nossa, que somos mãe de família. Nossas casas não ficam limpas, pois é muita poeira. Quem trabalha nessa estrada também está sendo prejudicado, quem vende comida, quem tem seu comércio. É questão de saúde pública é um direito social nosso viver com mais dignidade, porque nós votamos, pagamos impostos e queremos o que é nosso por direito, por isso estamos aqui”, declarou a agente de saúde.
De acordo com os moradores, os problemas enfrentados com a ausência do asfalto já data anos, e com eles as promessas, da atual gestão, que nunca se concretizou. “Essa situação se deu porque o prefeito vive nos enganando. Fizemos uma reunião com ele no mês anterior e ele nos prometeu que asfaltaria a rua. Esperamos 30 dias e o prazo se esgotou. Em outra reunião mais vinte dias, esperamos e se esgotou. O prefeito mandou o secretario de obras e ele nos prometeu novamente que as máquinas estariam aqui e nada. Então decidimos, em conjunto, que se elas não estivessem aqui no sábado, fecharíamos a MA nesta segunda-feira e assim fizemos”, relatou Maria da Paz, moradora do bairro.
Na semana passada, um vídeo dos moradores, alertando as autoridades sobre a manifestação viralizou e chegou às autoridades municipais. “Quando eles (os moradores) nos avisaram na semana passada que fariam uma manifestação, informamos que o prefeito estava em São Luís, conversando com o secretário de estado, e ele nos informou que viria o mais rápido possível para concluir esse serviço. De fato vieram, mas não sei por qual questão eles tiraram o foco da MA-381, dentro da zona urbana e jogaram lá fora, a partir do IFMA”, declarou o Secretário de Infraestrutura Francisco Florêncio, em entrevista ao programa de rádio Tribuna 101.
É importante ressaltar que as indagações dos moradores da Rua da Corrente é de responsabilidade da prefeitura, porém, o Secretário de Infraestrutura pontuou que o Estado garantiu a reforma nas rodovias e ruas que interligavam a MA-381. Quando questionado sobre o a possibilidade da prefeitura assumir esta responsabilidade, o secretário declarou: “se nós temos uma garantia do estado a se fazer, nós não queremos atropelar tomando a frente e fazer, já que o estado assumiu a responsabilidade, mas estamos vendo se por ventura sentirmos que não vai ser feito, o município tomará providencia”, finalizou.
O protesto findou com a intervenção da Polícia Militar (PM) após dialogar com os moradores, onde os mesmos acordaram que dariam um prazo de mais três dias para que a prefeitura solucione o problema, caso contrário, farão outra manifestação. “Não iremos cessar mais, iremos continuar nosso manifesto até termos uma resposta. Quinta-feira iremos quebrar de novo e agora não iremos liberar a MA para ninguém passar. Se o prefeito fosse um homem de bem ele teria comparecido lá para dialogar com a gente, mas ninguém apareceu”, finalizou Maria da Paz.
Até quando a falta de infraestrutura será pauta de protestos?
Com cerca de 40 mil habitantes, Pedreiras ainda é cenário de luta por melhores condições de vida em termos de infraestrutura, seja no sistema de abastecimento d’água, seja por melhorias nas rodovias e sistemas viários.
No Brasil, onde a grave carência de infraestrutura abarca, em grande parte, as cidades interioranas, a falta de atendimento às necessidades da população paira sobre um constante crescimento populacional, em meio à falta de boas condições de vida que dificulta o desenvolvimento socioeconômico da população.
O professor de Economia Fernando Galvão ressalta: “a alternativa para essa carência de infraestrutura no país e a carência de recursos pra financiar esses investimentos, se tem imposto políticas de privatizações, o poder público vende patrimônios estatais, para que o setor privado possa executar investimentos. Assim também, as Parcerias Público Privadas (PPP’s) onde o estado não vende, mas entrega pra iniciativa privada desenvolver aquela área. Em contra partida ela atende algumas condições”, explicou o professor.
Em consequência a isso, o Brasil abre mão de sua autonomia transferindo as tomadas de decisões para o capital que não necessariamente é nacional e sim, internacional, além da desvalorização de patrimônios. “Eles estão sendo entregues à iniciativa privada por um preço muito barato e isso, lá na frente, vai se transformando em um vazamento de renda no Brasil agravando a nossa vulnerabilidade internacional”, finalizou o professor de economia.