Para viver procuro lembrar somente do que é feliz, do que é bom e de todas as lições que meu Pai deixou para mim. Meu samba está de luto e como cantou Noel Rosa e também tantas vezes ouvi meu Pai cantarolar: “Meu violão vai soluçar, luto preto é vaidade, neste funeral de amor o meu luto é saudade, e saudade não tem cor”. A cada canto da nossa casa há um pedaço dele, uma história pra contar, um riso de lembranças, lições tomadas e traços que se perpetuam na sua prole.
João de Sá Barrêto, sempre um homem forte, de caráter marcante, honesto e de uma integridade invejável, eu como sua filha (a caçula) procurei e procuro seguir seus passos, me manter firme, ser forte e não se abater pelos problemas e adversidades que surgem ao longo dos anos. Por dois anos eu não conseguia nem terminar de ler o que escreviam sobre ele, pois as lágrimas pulavam do coração e saltavam aos olhos embaçando a vista e me fazendo parar de ler, hoje eu consigo escrever e absorver o que de bom existe na memória daquele que é o homem mais importante da minha vida, todas as músicas, poesias, o carinho dele reside em mim.
Meu Pai deixou grandes heranças para nós, grandes amigos, grandes lições, grandes gestos, e a simplicidade de viver bem e intensamente “bom mesmo é ser boêmio como eu”. Ele está imortalizado nas suas obras e dentro de mim, o que ele nos deixou nada nem ninguém irá destruir, é eterno, para mim ele não morreu, ele vive, vive em meio às conversas nos botequins e escritórios, pois sua história vai para além da arte, na contabilidade ele foi um profissional espetacular, foi um grande conhecedor das palavras, as sabia usar como ninguém, é de uma fineza inigualável. Para Família sempre foi pilar, e mesmo com sua ausência física ele continua a nos influenciar em nossas decisões.
Acordei hoje escutando as músicas dele, aquelas que ele mais gostava, Noel, Cartola, Nelson, e tudo isso deixa ele mais perto de mim, e isso hoje me deixa feliz e forte, ele está comigo, como sempre esteve.
Por Raira Maria Jaci de Sá Barrêto, uma das filhas de João de Sá Barrêto