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quarta-feira, janeiro 15, 2025

“Com o servidor não cola”: diz Marcos Vale, presidente do SINDSERPE, sobre impacto político dos 10% de aumento salarial

ENTREVISTA


As boas-vindas ficam por conta de Anita, que não rebola, apenas late. É uma das crias de Marcos dos Santos Vale, 38 anos, num lar também povoado por gatos, do chão à parede. Fora dele, em um mundo de cobras e lagartos, o Agente de Combate às Endemias – continuando a analogia digna da Arca de Noé – é um misto de onça e pitbull. Mas calma, ele nunca matou ninguém e quando mordeu foi no sentido figurado.

Ficou conhecido em Pedreiras, Maranhão, por sua indignação, quando a Câmara de Vereadores aprovou a lei de descontos que chegam a 14% do rendimento dos aposentados e pensionistas (detalhes no quadro “O gato comeu”).  Como membro do Conselho de Saúde é uma rara voz dissonante em um espaço dominado pela prefeitura.

A partir de 2024 assumirá uma nova frente, desta vez como presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Pedreiras (SINDSERPE), sucedendo a gestão de Ana Roberta Alves. Eleito com 434 votos (69%), terá a missão de gerir sem distinção, dirimir conflitos internos e pautar demandas perante o poder público, que se o conhecer bem, estará vacinado.

Os rumos do sindicato, possíveis prioridades de sua gestão e o desafio de unificar sindicalistas, em prol das lutas em comum, são temas da entrevista concedida por Marcos ao jornal O Pedreirense. 

O Pedreirense: Marcos, de onde vem esse seu envolvimento com movimentos sociais numa trajetória que desagua na sua eleição para presidência do SINDSERPE?

Marcos Vale: Na veia. Quando a gente se identifica com esses movimentos sociais. Para mim não é algo novo. Desde muito jovem me identifiquei. Quando participava dos grêmios estudantis. Tive professores que sempre me inspiraram e me incentivaram a ingressar nesses movimentos. Participei do colegiado escolar durante muito tempo, enquanto estudante e após ingressar no mercado de trabalho nunca deixei a luta sindical.

OP: Sendo natural de São Luís, que circunstância te trouxe para Pedreiras?

MV: Comecei a visitar a cidade, ter amizades por aqui. Aí apareceu a oportunidade de fazer um concurso para Pedreiras e não pensei duas vezes.  Trabalhava na iniciativa privada, mas apareceu uma oportunidade, um concurso, e fiz. Hoje sou servidor público no munícipio de Pedreiras. Sou Agente de Combate às Endemias e atuo na Vigilância Epidemiológica.

Marcos Vale, presidente do SINDSERPE (Foto: Joaquim Cantanhêde)

OP: Seu discurso, pós vitória, trouxe o termo união. Como pretende promovê-la em um sindicato rachado sob o ponto de vista político:

MV: A união é necessária, fundamental. Acredito que seja um dos meus maiores desafios, enquanto gestor do sindicato. O meu slogan de campanha foi “Um SINDSERPE para todos”. Muitas pessoas às vezes tem a ideia de que é o sindicato dos professores e isso não é verdade. É dos servidores públicos de Pedreiras. É do professor, mas é também do Auxiliar Operacional de Serviços Diretos (AOSD), do vigia, de todas as categorias profissionais.

Nesse momento, é importante que todas as nossas categorias tenham a consciência de que a divisão não pode existir dentro da nossa instituição.

Conversar com todas, analisar os anseios de cada uma, para que a gente possa trabalhar unidos. Nosso maio desafio não é travar uma luta interna. Ela tem que ser feita lá fora, porque é lá que nossos direitos são desrespeitados.

OP: Como trazer quem faz oposição à Ana Roberta?

MV: Não quero a construção do sindicato apenas com pensamentos iguais, mas que possam divergir do meu, para que a gente possa unir as categorias. É importante que todos nós possamos ter um diálogo aberto e categorias unidas para que se chegue ao consenso. O sindicato, após a posse, terá uma nova administração, terá um novo presidente. Queremos também manter, na direção, a unidade de quando éramos uma chapa.

OP: No que você pretende se diferenciar da presidente Ana Roberta?

É um desafio grande assumir a presidência de um sindicato depois da gestão da professora Roberta. Pelos avanços, conquistas – que são inegáveis – e todos os servidores observam. Quando me propus a assumir aquela cadeira sabia desse desafio.

Tentar manter tudo o que se conseguiu e avançar com nossas políticas sociais, principalmente. Não dá para fazer menos do que ela dentro do SINDSERPE.

Uma de nossas marcas será um diálogo franco com nossos servidores. Talvez seja essa uma das reclamações que ouvimos durante a nossa campanha. A dificuldade de comunicação, de tentar ser ouvido. Nossa gestão vai procurar ouvir de perto cada um.

Os benefícios oferecidos para os sócios serão ampliados. Foi nossa proposta de campanha. Temos já alguns projetos sendo desenvolvidos, como por exemplo nossas aulas [duas turmas] de hidroginástica, sem custo adicional. Parceria com a iniciativa privada, com desconto em combustível, gás, transporte. Benefícios que serão mantidos e já estamos buscando outros.

Marcos Vale, presidente do SINDSERPE (Foto: Joaquim Cantanhêde)

OP: Durante a gestão da Ana Roberta os servidores, na peleja com a gestão Vanessa Maia, sofreram uma derrota, que foi a questão dos descontos salariais de aposentados e pensionistas. Que avaliação você faz do papel do SINDSERPE nessa luta?

MV: Acompanhei desde o primeiro momento. Inclusive fiquei famoso desde esse período. O sindicato fez tudo o que esteve ao seu alcance. Infelizmente a lei foi aprovada a contragosto do sindicato, da direção e todos os servidores. Ninguém nos ouviu. O sindicato tem feito tudo, dentro dos termos legais, para reverter os efeitos dessa lei. Temos um processo tramitando na justiça. A qualquer momento a juíza pode estar dando uma decisão sobre esse processo.

OP: Recentemente o Legislativo Municipal aprovou proposta, do Executivo, de reajuste salarial de 10% para servidores efetivos. Ao ser entender, essa ação política consegue dissipar o cenário de indignação que há em parte dos servidores?

MV: As perdas salariais já chegaram a 48%. Ela pode até ter essa estratégia política, mas acredito que com o servidor não cola. A Lei da Previdência vai permear os discursos políticos, principalmente da oposição.

Em ano de política se promete tudo, mas a gente precisa que o nosso servidor amadureça. Espero que a gente tenha aprendido muito com todo esse processo. Tenhamos consciência que precisamos escolher melhor quem irá nos representar. Será [eleição] momento do servidor avaliar bem quem será seu representante.   

OP: Esse já é um discurso de uma provável candidatura ao Legislativo? É o que se ventila.

MV: Algumas pessoas têm essa postura. “O Marcos tem essa pretensão de ser candidato a vereador”. De antemão, quero antecipar que não. Pelos próximos quatro anos estarei presidente do sindicato. Vou cumprir meu mandato integralmente.  

OP: Que pauta você considera a mais relevante, a ponto de já se dedicar a ela no primeiro dia de sua gestão sindical?

MV: O reajuste salarial dos servidores. As perdas são gritantes. É a prioridade número um do sindicato, e continuar a luta pela revogação ou mudanças nos dispositivos dessa Lei 1534, que tem penalizado nossos aposentados e pensionistas. Enquanto profissional da saúde, sei o que ela causou em cada um de nossos servidores. Conheço de perto a realidade deles.

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Joaquim Cantanhêde
Joaquim Cantanhêdehttp://www.opedreirense.com.br
Jornalista formado pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
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