Para sermos exatos, 2.281, 72 km² de mata nativa desmatada. Com esses números o estado do Maranhão ocupa a dianteira nos índices de destruição do Cerrado, puxado, em especial, pelo município de Balsas, na região sul do estado. Ocupante do primeiro lugar no ranking nacional que mede a destruição do bioma, de acordo com levantamento do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), divulgado nesta sexta-feira (7).
DESMATAMENTO DO CERRADO
- Balsas (MA) com 241,64 km² de vegetação nativa
- São Desidério (BA), com 207,84 km² desmatado
- Formosa do Rio Preto (BA), 157,31 km
- Paranã (TO), 135,43 km
- Jaborandi (BA), 116,44 km
- Grajaú (MA), 95,42 km
- Caxias (MA), 86,79 km
- Aldeias Altas (MA), 83,64 km
- Correntina (BA), com 76,41 km
- Santa Maria das Barreiras (PA), que desmatou 77,74 km²
O Cerrado brasileiro perdeu mais de 8.500 km² de agosto de 2020 a julho de 2021. As informações são do Programa de Monitoramento do Desmatamento da Amazônia, realizado pelo Instituído de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Os dados são expostos no momento em que o Brasil corre o risco de não mais realizar os levantamentos sobre o Cerrado a partir de abril. Em função da falta de verba, o Inpe desarticulou a equipe de pesquisadores responsável pelo monitoramento, que ruma para a paralização, deixando o país no escuro quando o assunto for este bioma.
“É um projeto importante para acompanhar a questão hídrica, a agricultura. É um projeto de baixo custo se comparado ao valor que esses dados têm para o mercado, mas não temos investimento”, disse Cláudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas, ao portal G1.
“Iremos acionar o STF para garantir que o INPE tenha os recursos necessários para bancar o projeto de monitoramento do desmatamento no cerrado. Não vamos permitir um apagão de dados!”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede), em seu perfil no Twitter.
Nota-se que dos dez municípios que mais desmataram o Cerrado, nove integram o chamado MATOPIBA, composto pelo Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM destaca: “Há uma elevada atividade agropecuária na região do Matopiba, por isso precisamos colocar em prática soluções conjuntas para dissociar a produção do desmatamento. Desmatar não é e nunca foi uma necessidade para melhorar a produtividade agrícola”.
Um outro agravante se dá em meio a este cenário de destruição: os conflitos no campo.
“Tem sido recorrente. Há anos o Maranhão sofre, estando entre os estados com mais violência, ameaças e conflitos no campo. Estamos numa conjuntura nacional muito difícil em todo país. Nesse período pandêmico as comunidades sofreram ainda mais ameaças. Em tempo, as comunidades se organizam para se proteger do vírus e também das invasões de seus territórios. Essas invasões acontecem por empresas, fazendeiros, com o avanço do agronegócio, nessa fronteira agrícola de MATOPIBA”, destaca Lenora Rodrigues, coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT- Maranhão). A entidade publicou, no dia 10 de dezembro de 2021, Dia Internacional dos Direitos Humanos, dados parciais e preocupantes do relatório ‘Conflitos no Campo – 2021’.
No Maranhão existem cerca de 70 comunidades ameaçadas, espalhadas por cerca de 13 cidades.
“De um lado o aumento significativo do Cerrado, fundamental para a vida na Terra, tendo em vista que é responsável por parte significativa de nossas águas, e além, claro, desta destruição, promovida, sobretudo, pelo avanço do agronegócio no estado do Maranhão, nós temos um número significativo de confrontos e conflitos agrários”, destaca Diogo Cabral, advogado da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras do Estado do Maranhão – FETAEMA.
Segundo a federação, a flexibilização das leis ambientais pelo governo Bolsonaro e o sucateamento das forças imbuídas de fiscalizar, bem como a concessão de licenças sem observar os critérios, pela Secretaria de Meio Ambiente do governo Flávio Dino, são as razões que vulnerabilizam o Cerrado e os territórios ligados ao bioma.
Violência no campo, grilagens de terra, uso indiscriminado de agrotóxicos e falta de interesse em biomas abertos, são fatores apontados como determinantes para a destruição do Cerrado brasileiro.
“Somente 8,21 % de sua área é protegida, enquanto Unidade de Conservação e o processo de desmatamento avança de maneira muito acelerada sobre esse remanescente da vegetação nativa”. Para Lívia Carvalho Moura, essa falta de interesse é refletida no desconhecimento técnico, no não reconhecimento da importância do bioma e consequentemente na falta de políticas públicas destinadas à sua conservação.