No cemitério do Povoado Olho D’Água, zona rural de Pedreiras, Maranhão, a movimentação não foi tão intensa na parte da manhã, cenário que deve mudar na parte da tarde, quando muitas pessoas irão visitar os túmulos de seus entes queridos, entre eles, as 49 vítimas da Covid-19 em Pedreiras. Estivemos no local e conferimos que não há qualquer restrição aos que desejam acender velas, colocar coroas nas cruzes ou rezar pelos seus mortos, no espaço separado para receber os corpos dos vitimados pela pandemia.
Muitas pessoas dedicam parte do dia para a limpeza dos túmulos, seja retirando os matos que espreitam as covas ou mesmo utilizando água e sabão para deixar os espaço com uma melhor aparência. “Significa manter ela e meu irmão sempre vivos na mente da gente. É a moradia deles, do corpo. O espírito, creio que esteja junto com Deus”, argumenta Cícero Leite ao ser indagado sobre o significado da faxina no túmulo de sua mãe e irmão.
Três anos de idade, foi nessa fase da vida que Paulo Roberto Sousa Lima perdeu Alinalde, seu pai. Aos 12 anos, tudo o que sabe sobre ele vem dos relatos daqueles com que seu progenitor conviveu. “Me contam que ele era um cara extrovertido, que brincava com todo mundo e que era gente boa”. Ao longo da vida e diante da ausência paterna, faz questão de vir, no Dia de Finados, ao cemitério do povoado Olho do D’água, zona rural de Pedreiras, Maranhão. Sobre a cova de seu pai acende velas.
“Gostaria de abraçar ele”, revela Paulo Roberto, bastante emocionado, na companhia do tio, Paulo César.
“É um momento triste, porque é ver o sobrinho da gente crescer sem o amor do pai, apesar de que nós, irmãos de sua mãe, damos todo amor, mas nunca é como o amor do pai dele. Essa é uma hora que a gente tem que vir agradecer a Deus por ter colocado ele na nossa vida. Foi Deus que o tirou, então tenho certeza que ela está do lado de Deus, mas para nós é um momento ruim”, pontual Paulo César.
É tradição no dia 02 de novembro, Dia de Finados, a visita em homenagem àqueles que já partiram. No cemitério central da cidade de Pedreiras, localizado no Alto São José, todos os anos é celebrada a missa dos Bem-Aventurados, reunindo fiéis que depositam um tempo de lembranças e reza aos seus entes queridos.
Às 06:40 da manhã o padre José Geraldo, Paróco da Igreja São Benedito iniciou a celebração. Ele ressalta a importância desse dia como forma de resgatar memórias e a história de Pedreiras. “Manter viva a memória, a história e o legado. Não procure nas páginas de papel a história de Pedreiras, procurem-na no cemitério“, enfatizou.
“A pior morte não é a física, é a morte em Deus. Precisamos nos policiar , precisamos cada vez mais estar atentos porque não temos momentos para despedidas. Hoje nós subimos aqui e vamos retornar tranquilos. eles subiram aqui e permanecem aqui“, relatou o padre durante a ministração da missa dos Bem- Aventurados.
Parado próximo ao túmulo de sua mãe, o senhor José Augusto relata que há 10 anos sobe o morro do Alto São José no Dia dos Finados. Emocionado, ele expressa a tristeza que sente pela saudade da mãe. “Cheguei cedo da manhã, comprei a coroa de flor e acendi as velas. Nesse momento só consigo sentir tristeza”, contou.
Uma das práticas deste dia é a tradição de acender velas como uma forma de transcender a fé e celebrar a memória dos falecidos. Neste momento os fiéis iniciam as orações ou rezas nos túmulos de familiares e amigos.
Por: Mayrla Frazão e Joaquim Cantanhêde