Os passos caminham como suas palavras, paciente, Carlieti Mendes Menezes, de 38 anos, como se reconhece desde pequena, não se apressa para entrar em seu refúgio, uma humildade residência, no bairro do Diogo, em Pedreiras, Maranhão. Erguida com barro e ripas, sinaliza que a qualquer momento poderá desabar, mas Carlieti se acha longe de ter o seu maior desejo realizado: erguer a tão sonhada casa de tijolos. Entre os poucos cômodos, sua pluralidade decora o lugar, recortes de artistas compõem a parede úmida, seu time do coração, o flamengo, achou um lugarzinho na sala próximo à sua fé, representada pela bíblia sagrada. Um espelho empoeirado e quebradiço, ainda na sala, reflete, além da vaidade, o orgulho de viver fora dos padrões da sociedade.
Carlieti se reconhece transexual, mas não se limita a enquadrar o seu gênero em uma categoria. Para ela ser humana é o que basta. Nas ruas, onde passa a maior parte do tempo, trabalhando como gari, ressignifica os olhares de quem a enxerga pelas lentes do preconceito e exibe com intensidade a sua simpatia e personalidade, por isso, encontra-la com o olhar sempre expressivo e maquiado é comum. Questionada sobre o medo de ser quem é numa sociedade onde, Somente no ano passado 237 LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) tiveram morte violenta no Brasil, vítimas da homotransfobia: 224 homicídios (94,5%) e 13 suicídios (5,5%) são dados do Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+ no Brasil, para Carlieti, a alegria de viver transcende o medo.
Pedreiras, cidade do interior do Maranhão, um lugar em que a diversidade de gênero ocupa poucos espaços, seja na comunicação, nas rodas de conversas, escolas e outros órgãos, quando pensamos em representatividade da comunidade LGBTQIA+ enxergamos este cenário bem distante do nosso ciclo social, o que dificulta a luta deste grupo, por direitos, por respeito. Mas para Carlieti, mesmo que de longe, ver essa representatividade na música brasileira e em outros espaços políticos já é um avanço.
Neste 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, o mundo celebra o orgulho de ser você, pelo respeito, por mais representatividade e pelo combate à LGBTfobia, que nos últimos dias tem se intensificado o número de casos. De acordo com o diretor da ONG all out é um processo amplamente estrutural e que depende de medidas tomadas pelo governo. “O combate à LGBTfobia certamente é um processo mais amplo e que, de fato, depende de mudanças estruturais. Por exemplo, a superação da cultura sexista tão presente nas forças policiais. No entanto, a maioria das barreiras depende mais de vontade política do que de questões culturais”, diz Leandro Ramos, diretor da ONG
Em meio à celebração deste dia, Carlieti abre as portas de sua casa E da sua história para o mundo. Em entrevista ao portal O Pedreirense ela fala sobre sua infância, família, dores e sonhos. Mostra que sua identidade sempre foi motivo de orgulho, apesar das lutas diárias contra uma parte da sociedade, esse orgulho nunca foi reprimido. Acompanhe a partir de agora: