Leituras e descobertas do mundo
Neste final de semana, vi-me chamado a explicar para alguns voluntários (estudantes da Universidade Estadual do Piauí – Uespi) como é a nossa metodologia de trabalho. Acho pesada a expressão “metodologia de trabalho”. Penso que sejam lições aprendidas a partir de trocas feitas com crianças leitoras ao longo destes últimos oito anos. Aprendizagem da prática. Um conjunto de saberes da prática. Uma ética do viver com respeito e generosidade. Um modo de amar-se e amar o próximo.
Primeiro, cada criança-leitora é um ser único. Possui gostos bastante particulares. Tem histórias de vida próprias. A cada encontro, deseja fazer trocas específicas (desde narrar alguns dos últimos fatos do cotidiano a simplesmente folhear páginas dos livros). Ao ler percorre percursos singulares. Não se deve encapsular as diversas crianças leitoras num rótulo frio de “leitor”. Ao frequentarem a Biblioteca Leituras e Descobertas do Mundo não a tomam como “biblioteca” – é o “projeto de leitura”. Mas não um espaço simples de ler; é uma vivência de descobertas.
Segundo, uma criança leitora não se entrega de primeira. É preciso, pouco a pouco, conquistá-la. Deixar que se solte, no seu tempo. Até porque não se busca a interpretação “certa” de um conto ou as respostas de um roteiro prévio de leitura. Deseja-se que elas vivam a leitura com toda sua bagagem e fome de viver. Não é um livro fechado em si. É um encontro entre dois universos – o da narrativa e o da criança leitora.
Terceiro, não reproduzir aqueles modos de educar que nós, educadores, quando estudantes, detestávamos na escola. Nada de comparações. Ou julgamentos negativos ou apreciações através de números. Nada de valorizar alguns e deixar a grande maioria sob o peso do silêncio e do esquecimento. Cada expressão da criança leitora é significativa. Importante deixá-la à vontade para se expressar. Mostrar-se com suas fragilidades e potencialidades. E buscar contribuir com algumas de suas descobertas.
Quarto, educadores e crianças leitoras são seres integrais. Evitar capturá-los no negativo do “professor” e do “aluno”. Pelo contrário. Mobilizar-se holisticamente a cada interação. Potencializar descobertas para ambos. Descobrir novos sentidos pro viver. Aprender pelo prazer de descobrir e existir.
Por Luciano Melo – educador