A sexta foi longa, ainda que tenha passado num piscar de olhos. Boa parte dela desconexa das redes sociais. De volta para casa, o smartphone parece entrar em ebulição. Mensagens checadas, a conclusão é a mesma: não perdemos lá grandes coisas. Do Instagram ao Facebook, passando pelo WhatsApp, muito se comentava sobre a subida de temperatura no ambiente político local, numa sexta, que para os mais deslumbrados, era quase que faraônica. Do lado de cá e de lá, obras foram inauguradas com direito a visita do Senador Roberto Rocha. Cartas na manga de quem está no poder: Antônio França aqui, Fred Maia lá. Mas há uma ponte que liga as duas cidades, Pedreiras e Trizidela do Vale, ambas no Maranhão. Enquanto um quer continuar no poder, o outro almeja ampliá-lo.
As duas figuras apresentam um perfil político categoricamente distinto. Um sumido demais ou outro aparecido demais. O que os harmoniza é a distorção que provocam acerca do que é ser gestor público. No contexto de uma campanha, oficialmente não iniciada, o silêncio, tão próprio de Antônio França, terá que dar lugar a qualquer outra coisa, que não a quietude que marca sua insossa passagem pelo poder.
Na campanha de 2016, tomou para si a ideia dos pobres no poder. Como se a carência financeira fosse pré-requisito para o selo de honestidade. O jargão “o povo quer o liso”, pegou de tal forma, que uma parcela da população passou a acreditar no lema fundo de quintal, que não cola mais e seus adversários sabem disso. Que papel Antônio interpretará desta vez? Pelo que se viu nas entrevistas que deu ao longo da semana e nos discursos típicos das inaugurações, deverá subir o tom, já que tem contra si todas as artilharias, uma delas, regidas por Fred Maia.
“Enquanto gestores estavam preocupados com respiradores para salvar uma vida, eu estava preocupado com remédio, estrutura, para salvar várias vidas. Porque não precisaria preparar carregadeira para enterrar ninguém. Precisaria preparar meu povo para cuidar dos doentes e foi isso que fizemos”, disparou Antônio, esquecendo-se de mencionar as quase 50 covas abertas por uma das escavadeiras do munícipio, hoje ocupadas por vítimas da COVID-19.
Fred Maia, que para boa parte da população é um gestor modelo, não é conhecido por controlar a língua. Foi graças a ela que conseguiu fama nacional durante a pandemia da Covid-19. Pauta, inclusive, na Revista Piauí. Muita gente leu e não entendeu, mas achou bonita a imagem caricata do prefeito que caminha para o fim de seu segundo mandato. A resposta dele viria horas depois: “Agora muito me admira, senhor prefeito, se o senhor tava tão preocupado em salvar vidas, por que não tava salvando pelo menos a sua? Por que você tomou a hidroxicloroquina e azitromicina? Porque o Fred Maia mandou deixar para você. Mandou seu cunhado aqui, meia-noite, buscar o remédio pra você” (sic). Em sua resposta o gestor aproveitou para “lançar um desafio”: “Vamos abrir as contas do Covid-19, vamos ver para onde está indo o dinheiro da COVID da Trizidela e vamos ver para onde está indo o dinheiro da COVID de Pedreiras”. (sic)
O disse me disse não parou por aqui.
Em um segundo vídeo, Antônio França agradeceu ao gestor da cidade vizinha, confirmando que recebera os medicamentos, mas nada que simbolizasse uma queda no tom nada amistoso. “Esse é o seu perfil e eu lamento muito Vossa Excelência fazer desafios para mostrar que é homem”.
Os vídeos, na íntegra, estão aí, para quem quiser ver. Pergunto: qual o nosso lugar nesse conflito? A briga deles é a nossa?
O que vemos nesse antagonismo são duas figuras que deveriam urgentemente deixar a vida pública, haja vista o mal que cada um provoca, a seu modo, ao civilizado debate público. Chegaram ao poder pela via do apelo. Um incorporando o nordestino humilde e sofredor, o outro tomando pra si uma alma coronelista com ares de Atlas, um dos titãs condenados por Zeus a carregar o mundo nas costas. Anomalias de uma democracia que precisa ser revisitada e refeita.
Há poucos dias ambos estiveram em Brasília no mesmo período. Dentre as reivindicações supostamente levadas à capital federal estava o bairro Maria Rita e sua carência de infraestrutura. Detalhe: Fred não é sequer morador do bairro em questão e ainda que fosse, não tem nenhum poder administrativo do lado de cá da ponte. A menos que seja profeta. Com a eleição de seu vice tida como certa, passa a se dedicar à campanha de sua esposa, Vanessa Maia, uma personalidade da “nova política” desprovida de protagonismo político próprio. Deixo as indagações sobre sua candidatura para outra ocasião.
Tínhamos tudo para caminharmos rumo a um debate minimamente qualificado- eis a maior urgência da cidade centenária, mas tanto Antônio quanto Fred chegaram ao poder graças à via do populismo e nenhum deles deverá abdicar dela. Enquanto se “matam”, comunidades inteiras sentem na pele a ausência do Estado na garantia de direitos fundamentais e inegociáveis.
A gestão “Honra e trabalho” deve ser questionada. O peso dos acertos, erros e improvisos devem ser colocados na balança do juízo popular, prefigurado no voto. Mas, até 31 de dezembro, Antônio França continuará, para desgosto de uma considerável [A maior? Em breve saberemos] parcela da população, Prefeito de Pedreiras. A Fred, cabe um exercício de autocontrole e uma leitura básica sobre como a democracia funciona. Não existe porta alternativa. A democracia sequer suporta janelas. Resta saber, quem, pelo sufrágio popular, deverá entrar pela única porta existente.
Por Joaquim Cantanhêde
Obs: A opinião expressa é de inteira responsabilidade do autor. O Pedreirense sempre se manifesta por meio do editorial.
Nosso lugar enquanto eleitora da cidade. Nesse bate boca entre prefeitos… Fico passada com O Fred Maia, faz comentários totalmente nao assertivo. Ao meu ver ele poder ser aquela pessoa nao tem papas na língua, hoje fica alegando do que fez oferecendo o remédio para outro gestor. Pois esse, essa omissão de resposta por certo e agora parece falando e dando resposta. Como vc disse no texto enquanto um sumido e outro exibindo por demais. Meu papel, nao fica so olhando e critica e explicar aos demais amigos e vizinhos. Nenhum dois merece ter nosso mostrar de fato quem sao eles.