Da desistência da candidatura à união com um de seus mais ferrenhos dissidentes. A jornada de Antônio França pela reeleição, agora confirmada, perpassa muitas teorias conspiratórias, incertezas e conversas de bastidores. Tido como “morto” por grande parte de seus opositores, fez da Convenção do Partido Democratas (DEM), ocorrida na terça (15/09), um grito, cujo sentido real será definido nas urnas.
O atual gestor de Pedreiras chegou ao Clube W10 aos pulos, feito menino quando pisa em brasa. Vestiu-se de azul, cor predominante na convenção. Os mais apressados esperavam vê-lo acompanhado, em especial, do tão aguardado vice, mas “deram com os burros n’água”. Entre sua entrada e a apresentação do vice, outros detalhes e discursos marcaram uma ocasião regada a “25 na cabeça”, o mantra da noite em alto e bom som.
Na redondeza, as vans tomaram conta das esquinas próximas e as chapas concorrentes, atentas, evocam o argumento “trouxe gente do interior”, mas é bom lembrar que o direito ao voto é também uma garantia dos campesinos. França sabe que sua fama de liso, agora passível de ser questionada, ainda ecoa. “A maioria é de Pedreiras”, destaca um dos locutores.
O atual gestor dividiu palanque com a primeira-dama Alessandra Saturnino, com sua mãe, Lindalva França de Sousa, seu pai, Raimundo Tavares de Sousa, vulgo “Mundinho carroceiro”, e seu irmão, Daniel Sousa, eletricista cuja legalidade da contratação pela Prefeitura de Pedreiras foi questionada na saudosa Comissão Parlamentar Processante (CPP). O caso, interpretado pela justiça como “Improbidade Administrativa”, rendendo-lhes condenação na primeira instância, devendo seguir para outras. No palanque, também presentes vereadores dos partidos de base e apoiadores da atual gestão.
Numa cidade marcada pela expressiva presença do cristianismo, fez-se rotina nas convenções a participação de líderes religiosos (padres e pastores), sob o pretexto da benção. Em sua fala, coincidência ou não, o pastor Augusto lembrou um enredo bíblico no mínimo inusitado para a ocasião, quase uma mensagem subliminar: a história de Lázaro, ressuscitado por Jesus. Sem uma contextualização direta com a convenção ou com França, o líder religioso preferiu jogar para a plateia as possíveis interpretações.
Durante a convenção, o atual prefeito de Pedreiras dividia sua atenção. Às vezes a direcionava para os discursos, mexia no Smarthphone ou olhava para o lado, com um semblante não tão feliz quando o volume do som não era aumentado no tempo certo. Seu rosto úmido, em face do calor típico desse período do ano, entre o riso e a tensão.
“A gente olha nesse palanque e vemos pessoas, homens e mulheres, jovens, todos iguais. Temos um prefeito, mas ele é igual a nós, filho de um carroceiro. É por isso que o prefeito Antônio França, durante todo seu mandato, foi perseguido e discriminado por ser um de nós. A burguesia fede, como diz Cazuza. Quer ficar rica, pois não é. Só tem nome de rica. Quer o poder para se beneficiar e continuar playando de rica”, pontuou Ester Barrêto, representando o Partido Socialismo e Liberdade (PSB).
Foi dela uma deixa sobre, o até então desconhecido vice de Antônio França. Antes de recitar uma poesia de seu irmão, o saudoso Samuel Barrêto, Ester disse que o vice viria das águas do Mearim, lentamente. De onde estava Antônio França falou para si, “só não fala o nome”.
“Passa muita confiança”, cochicha satisfeito um dos locutores a outro, sobre a presença das pessoas na convenção.
Se Dr. Pedro Edilson tratou de ratificar o apoio do governador Flávio Dino (PCdB), Cacimbão, secretário de Meio Ambiente da gestão “Honra e Trabalho”, citou o fato dos salários serem pagos em dia e atribuiu à vontade divina a condução de Antônio França ao exercício do segundo mandato.
A fala mais áspera da noite ficou por conta do Dr. Helvécio Fernandes, figura do direito, importante para a absolvição de Antônio França na peleja da CCP. Chamou de “inimigos da democracia” as chapas concorrentes. “Os Democratas marcharão unidos com os outros partidos. Olho no olho. Pediremos aos nossos vizinhos, compadres, amigos no bairro, para acompanhar a candidatura vitoriosa de Antônio França”. Pincelando seu discurso com termos rebuscados, Dr. Helvécio por vezes foi direto, atribuindo a Fred Maia, gestor de Trizidela do Vale e esposo de Vanessa Maia, uma das cabeças de chapa oponentes, a figura do “capitão do mato”, a quem cabia, no Brasil colonial, capturar escravos fugitivos. Em outras palavras, um agente promotor de violência em nome das elites brasileiras. “Diz que em seis meses resolve o problema de Pedreiras”.
Sem citar nomes, Dr. Helvécio Fernandes questionou a ausência de Dr. Humberto Feitosa durante a enchente do rio Mearim e a pandemia da Covid-19, destacando as ações da gestão em ambas às situações. “Nós não podemos entregar Pedreiras na mão dessa ‘curriola’”, exacerbou.
Até aqui, nenhum sinal do vice.
Além de receber o apoio dos deputados Mávio Rocha (estadual) e Pedro Lucas (federal), a campanha de Antônio França recebeu o apoio do deputado estadual Rafael Leitoa, que prometeu: “nós vamos andar de casa em casa, rua em rua, conversar com o eleitor e convencê-lo de que Pedreiras é, daqui para frente, com você prefeito”, numa fala destinada ao engajamento dos apoiadores diante de uma cenário político não tão azul e branco.
“Tive o apoio de minha família para entrar na política e hoje tenho para continuar”. Antônio França foi o orador seguinte. A essa altura já tinha como plano de fundo sua família, para quem dirigiu a parte inicial de seu discurso. Evitou o termo “liso”, jargão no pleito de outrora, mas relembrou a busca pelos estudos em um passado marcado, segundo ele, por carências. Teria entrado na política por entender que era uma forma “de fazer o bem aos mais humildes”. A emoção o interrompeu por algumas vezes, mas nem só dela se faz um discurso em uma campanha que promete não ser das mais amistosas.
“Poderia eu, enquanto prefeito, formar o maior grupo político e ir para a reeleição, mas optei por me segurar, manter-me firme e dizer que não ia me corromper para comprar o meu segundo mandato”, destaca Antônio França, se colocando, mais uma vez, como candidato dos humildes, ainda que enquanto gestor seu padrão de vida o aproxime dos privilegiados economicamente à revelia da desigualdade social que abate os mais “humildes”, mas discurso “aqui nós não temos dinheiro”, palavras de Antônio França, foi a nota tônica.
“Infelizmente fomos perseguidos. Aqui secretário de governo, deputado estadual filho de Pedreiras fechando as portas para que assim não pudesse trazer benefícios para nosso município”, argumenta o candidato, em clara alusão à Simplício Araújo, Secretario de Industria e Comércio do governo Flávio Dino, e Vinicius Louro, deputado estadual, ambos em chapas opostas ao atual prefeito.
Mas e o vice?
“Chegamos à conclusão, entre os partidos e amigos, que iriámos buscar uma pessoa onde pudesse somar representando mais ainda meu povo”, foi esse o principal argumento posto pelo gestor na fala que precedeu a apresentação de Jardel Silva (33 anos), trabalhador rural, natural do povoado Pacas, região campesina de Pedreiras.
Ovacionado pela turba de apoiadores, entre abraços, o candidato a vice foi por fim conhecido e a candidatura de Antônio França materializada. Nesse contexto, a exemplo de Alexandre Assaiante, que tem como vice o professor Joselito Oliveira, a escolha de Jardel, desconhecido por boa parte do meio político se faz um ponto fora da curva, cabendo aos bons entendedores compreender.
“Se lembram de Davi, um simples camponês que se tornou rei? Assim se tornou nosso prefeito Antônio França. Sou uma pessoa determinada para ajudar ele. Aceito o seu desafio. Nós vamos para a luta e vamos ser vitoriosos com a graça de Deus”, destacou o vice oficializado, cujo futuro político se acha na mão do povo.
Por Joaquim Cantanhêde