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sábado, março 22, 2025

A república do filhotismo político

OPINIÃO


As eleições escancaram uma prática da política brasileira que nunca se acabou e que podemos facilmente chamar de: o filhotismo político. Este é um fenômeno que esteve impregnado de tal maneira na nossa república que podemos até confundir ela com uma espécie de monarquia da república fake, mas sem o monarca, apenas com os coronéis. Pra quem não lembra das aulas de história, o coronelismo foi um fenômeno forte no Brasil e que deu direcionamentos à reprodução de famílias e de posses no território brasileiro. Dono de terras, também tinham os favores das pessoas que ele empregava, sua simpatia e, até sua gratidão.

Filho de político, peixinho é, ou irmão, primo, neto.. o que importa é que na política a família tenha representantes. Isso lembra os coronéis, lá do início do século XX, mas é no século XXI que está acontecendo. A família, com suas posses, se reproduz sob a égide de um sobrenome na política. Já viram quantas bandeirinhas, seja nas capitais ou em outros municípios, tem “filho”, “neto” e “jr”, muitos são antecedidos pelos sobrenomes de famílias famosas que se consolidaram na política quase como se fossem empresas.

Tem irmão de prefeito utilizando o nome do cujo para ter uma lasquinha, ou tem filho, neto, etc. Muitos desses políticos se firmaram na política como se firma numa profissão, às vezes até anuncia aposentadoria. Eles têm anos e anos como vereadores, deputados e senadores, às vezes vão para um cargo no executivo, pois dizem que querem salvar o município ou estado. Eles são, além de profissionais, redentores.

A gente nem sabe o que esses políticos um dia fizeram, se foram professores, engenheiros, ou quaisquer outras coisas que eles tenham feito. Eles são políticos há muito e muito tempo.
Os seus filhos (bem facinho de reconhecer, pois sempre são uns meninos bem criados, geralmente homens, de sorriso feito e no leite mais caro do mercado) nunca fizeram nada. Podem ter estudado numa escola cara, que provavelmente foi paga com o dinheiro do contribuinte através de alguma verba extra do seu pai, fizeram alguma faculdade, as vezes uma empresa dada ou bancada pelo pai que nunca foi adiante (talvez uma startup, dessas que não fazem nada, pois pra evitar a fadiga). O que importa é que eles nunca foram nada pra dizerem que lutam por algo. Não são professores para dizerem que lutam pela educação, ou policiais, ou lideranças comunitárias.

São políticos forjados no berço. Que quando crescem são colocados num churrasco de família para seguirem o legado da família e recebem os conselhos: “diga que é pela educação, assim professores e estudantes vão votar em você”, “diga que é pela segurança, assim os policiais…” e por aí vai. Eles não conhecem e nem têm interesse em conhecer os reais problemas desses setores, pois quando assumirem os cargos eletivos (e vão assumir, pois o nome da família é forte e têm muita gente devendo um favor em forma de cesta básica ou de lobby), o máximo que eles irão fazer é votar para criarem o dia de algo muito irrelevante.

Os irmãos, primos, e até amigos, não fogem a linhagem.

Os irmãos, primos e até amigos não fogem a essa lógica. Eles são produzidos, como se fosse uma forma familiar. Eles não lutam por nada, aliás, inventam pautas pela conveniência. São pela família para atrair eleitorado, são pelos animais, jovens, etc. não por acreditarem, mais pois encontram uma moda do momento. Suas lutas não são lutas. Quando assumem o lugar público, sua pauta assume o significado de pessoas que não conhecem os municípios, estados e país, mas apenas de interesses individuais.

Por Sávio José Dias Rodrigues, geógrafo

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