OPINIÃO
Quem acompanha a novela Pantanal, da TV Globo, conhece a personagem ‘Muda’, interpretada pela atriz Bella Campos. Muda, que na verdade se chama Maria Rute, finge não poder falar para levar adiante seu plano de vingança, vivendo por um tempo com Maria Marruá e sua filha Juma. No mundo real e mais para o lado de cá, nossa vida política é marcada por falas, silêncios e gente que se faz de muda.
“Procurada [Vanessa Maia, prefeita] para explicar por que administra a cidade mais banguela do país, a prefeita não respondeu às ligações da piauí”, diz o jornalista Breno Pires, depois de narrar uma situação, minimamente vexatória para Pedreiras, Maranhão, que é recorte de um escândalo que liga cidades maranhenses ao questionado Orçamento Secreto.
Confesso quase cair da cadeira quando me encaminharam o PDF da reportagem. Naquela altura da noite, boa parte dos pedreirenses já dormiam. No dia seguinte, à luz do sol, a história da “cidade mais banguela do Brasil” se espalharia qual um formigueiro atiçado.
O teor já é sabido de todos e não sobre ele, diretamente, que desejo escrever.
Chamou-me a atenção, ainda que não em função de surpresa, o fato da prefeita Vanessa Maia não ter se manifestado quando procurada, segundo o repórter. Aliás, a comunicativa prefeita, em tempos de crise é silêncio.
Foram muitos ao longo de sua gestão, inclusive, quando a forma com que seu governo gerencia o Sistema de Saúde sob sua tutela foi questionado. Boa parte destes casos narrados aqui. Mas ao contrário destes, a reportagem de um veículo de comunicação com alcance nacional não foi sobre o suicídio de um homem dentro do Hospital Geral de Pedreiras, não foi sobre as goteiras caídas sobre pacientes, não foi sobre filas no Centro de Especialidades Médicas durante a madrugada, não foi sobre acusação de atendimento desumanizado. Mas pelo visto, o silêncio é lei em tempos de crise, até quando a cidade é chacota sob as luzes do Senado Federal.
Coube a Marcílio Ximenes, secretário de saúde, servir de colete, apaziguar a coisa e segundo documentos, ratificar que houveram, em momentos diferentes, erros de digitação, que não afetaram no recebimento do valor fixo, R$ 11 mil, para os atendimentos odontológicos. Segundo ele não há ligação com Orçamento Secreto.
Vanessa, a prefeita estourada, não faz barulho em tempos de crise, nem ao menos sussurra. Ela, já exposta politicamente de forma constrangedora no caso apresentado pela Revista Piauí, sabe bem que em momentos delicados, como os que se apresentam, silenciar evita ainda mais exposição.
O silencio de ‘Mainha’ é prato comum servido aos jornalistas que não comem de seu pirão. Ela não responde às indagações de jornais locais com posicionamento editorial independente e silencia diante dos questionamentos da Revista Piauí, mas sua assessoria, creio eu, já tem arte para o ‘Dia da Imprensa” do ano que vem. Doido é quem acredita em flyer.
O silêncio lhe é um direito, mas não é sobre sua vida privada que se indaga. É sobre recurso público, é sobre escândalo que envolve Pedreiras.
Mas o silêncio de Vanessa é um silencio acompanhando.
O primeiro deles acha guarida na Câmara de Vereadores, que não ensaia uma mínima reação diante das denúncias, o que não é surpresa. Dos 13 vereadores, 12 integram a base do governo, incluindo parlamentares que em campanha, adotaram o discurso da mudança de práticas no parlamento. A água do rio levou-lhes a memória, suponho.
Outro silêncio ainda mais gritante é o do Conselho de Saúde de Pedreiras, cujo contexto de aparelhamento já foi denunciado nas páginas deste jornal. Não há uma nota, sequer, deste órgão, que tem um papel fiscalizador indispensável ao Sistema Único de Saúde local, que esclareça o que será ou o que não será feito diante das denúncias que levam, entre muitas cidades, o nome de Pedreiras. Um órgão tão arcaico, que nem existe nas redes sociais. E isso não é por acaso. Evita-se o questionamento popular. Parte dos conselheiros relatam interferência e falta de independência. A presidência contesta.
Na política uma coisa é certa: todo silêncio diz.