No campo físico, a pandemia tem levado muitos dos nossos para debaixo da terra. Quando se trata da saúde pública, escancarou, como nunca, a precariedade de um sistema que na prática, se acha distante daquilo que preconiza. No campo da moral, a Covid-19 expõe, sem pudores, os pais da hipocrisia.
Fred Maia, ex-prefeito de Trizidela do Vale, uma forte liderança relegada ao triste papel de figurante nas fotos da gestão encabeçada por sua esposa, Vanessa Maia, é o exemplo mais nítido daqueles que tentam converter pandemia em popularidade. E conseguiu, ainda que de forma caricata.
Então gestor de Trizidela do Vale, cidade que por essa época, no ano passado, se achava entre a cheia e a pandemia, por vezes utilizava seu espaço na FM Cidade de Pedreiras e em seu canal de televisão, a TV Ouro Vivo, para esbravejar contra aqueles que transgrediam os requisitos básicos de cuidados na pandemia. “Pandemônio em Trizidela”, título de uma reportagem da Revista Piauí sobre nosso coroné:
“Tem uns filhos de umas éguas que estão indo fazer visita. Vai fazer visita na casa da sua mãe, pô. Não vai pra dentro dos abrigos não. […] As coisas agora vão ser assim, na porrada, no spray de pimenta pras pessoas aprenderem”, disse Fred na ocasião. Meses depois, com pandemia e tudo, sairia às ruas, sem máscara e aglomerando, pois os inimigos mudaram e poderiam aniquilar a ideia de estender seu domínio à cidade vizinha.
Fred Maia é parte de uma trupe política cheia de discursos, vazia de exemplos.
A transgressão permitida pela própria Justiça Eleitoral, foi o ponto convergente em todas as campanhas. Todas colocaram por terra regras de distanciamento, como se a pandemia, àquela altura, fosse, como poetizou Samuel Barrêto, “uma pálida lembrança”.
E o que dizer do não tão distante 1° de janeiro de 2021, dia da posse de Vanessa Maia (Solidariedade) e dos vereadores de Pedreiras. A casa do povo, cheia como quase nunca, repleta de pessoas sem máscaras. Um lugar perfeito para o Coronavírus fazer a festa, que terminou à frente do Palácio Municipal, com um séquito aglomerado, a maioria das pessoas sem máscara. Entre os políticos, abraços e mais abraços. De verdade, no meio daquilo tudo, só o Coronavírus.
Vinte e seis dias depois de ir ao encontro da multidão ao lado de Fred, ambos sem máscara, a prefeita de Pedreiras testaria positivo para à Covid-19.
Com o Maranhão em vermelho o quadro se agrava. São 225.334 casos confirmados e 5.379 mortes. Sem lockdown no momento, as políticas públicas se voltam para a ampliação dos leitos, incluindo os de UTI. Beirando a lotação, o Hospital de Campanha Dr. Kleber Carvalho Branco terá sua capacidade de atendimento ampliada. Nesse contexto Simplício Araújo, Secretário de Estado de Industria, Comércio e Energia do Maranhão, ecoa como protagonista. O mesmo da prosa ao pé do ouvido, com o ex-prefeito Antônio França, ambos sem máscara, no dia da posse.
“Hoje são 5 e passarão a 20 leitos de UTI, completos, também aumentará de 35 para 57 leitos de enfermaria com oxigênio, totalizando 77 a quantidade de leitos disponíveis para a região, nos próximos dias”, disse ele, suas redes sociais.
A carapuça do exemplo só cabe a Bolsonaro?
Em Pedreiras, dados do último boletim epidemiológico contabilizam 2.474 casos e 67 mortes desde o começo da pandemia. O número de casos inclui partes dos vereadores de Pedreiras que testaram positivo, um deles internado, numa semana em que até a sessão legislativa de quarta fora suspensa, por motivos óbvios. Em entrevista ao portal O Pedreirense, durante live realizada na noite de quarta, Marcílio Ximenes disse que o governo municipal estuda novas medidas para conter o avanço do vírus.
Hoje, pela manhã, em programa de rádio, inclusive fazendo mea-culpa, Fred reapareceu comentando a não adesão de parte da população aos cuidados necessários no enfrentamento do Coronavírus.
“Volto a pedir ao povo de Pedreiras e de Trizidela do Vale, que quem puder se prevenir, se previna. Vamos voltar a usar máscara. Estou começando a me reabilitar no uso da máscara… Criou uma zona de conforto e essa falha que nós cometemos (áudio corta) … Se aproveitou e se tornou uma coisa mais forte que está no organismo das pessoas”, disse ele.