OPINIÃO
“A história sempre se repete duas vezes: a primeira como tragédia, a segunda como farsa!” (Friedrich Hegel – Karl Marx).
É interessante o olhar do historiador frente os acontecimentos vigentes e atuais de uma sociedade tecnicamente nova. E, como que num filme, podemos ver, distinguir e analisar cada passo com muita precisão. Os ataques, ocorridos ontem (08), contra a honra do povo brasileiro, já eram esperados desde a votação do Impeachmen de Dilma Rousseff em 2016.
Não é normal, nem democrático, nem livre, o ato de evocar a memória de um torturador, como um herói, dentro da casa do povo. Não é cristã – e afirmo isso com toda propriedade que me é cabível dentro da igreja, de sua doutrina e fé e do evangelho por meio do meu batismo – a apologia ao ódio, o desprezo a vida, a falta de compaixão com os condenados, a negligência com os enfermos, o desdenho com os que sofrem, o descaso resultante em mortes de centenas de pessoas. Onde tudo isso se torna presente como força máxima e resultante, não pode haver nada de DEUS. Não tem nada de FAMÍLIA, no abandono dos menores, na violência doméstica, na irresponsabilidade com os filhos, no adultério e na falta da castidade. Se é para falar de família, falamos do todo, e não somente de uma parte conveniente para um fim desigual. Não basta um país heterossexual para a família estar salvaguardada, é necessário – a luz da fé – muito mais. Não tem nada de PÁTRIA, sem o mínimo do respeito constitucional, sem direitos e deveres, sem educação, saúde e dignidade.
Não basta ostentar as cores da bandeira nacional no peito, sem saber o que significa, como foi feita, qual a história, qual a identidade. A falta de conhecimento, causa alienação, e nada de bom pode vir de um grupo de alienados.
Ao ver os acontecimentos de ontem, lembrei rapidamente da tragédia do 11 de maio de 1938, os Integralistas e Getúlio Vargas. Com alguns atenuantes importantes.
Após o Estado Novo instaurado pela ditadura de Getúlio (1937-1945), o Movimento Integralista (que era visto como uma ameaça às novas frentes brasileiras), fora duramente perseguido e penalizado, tal qual a Frente Comunista. Na ocasião, o militar Severo Fournier (1908-1946), após meses de teoria e agrupamento de pessoas na Ação Integralista Brasileira que tinham como lema DEUS, PÁTRIA E FAMÍLIA, lidera um ataque ao Palácio da Guanabara para prender Getúlio e tomar o poder. A ação foi facilitada pois contou com alguns infiltrados, como a Guarda do Palácio Guanabara, a cargo do tenente Integralista Júlio do Nascimento, a chefia da Guarda na Polícia Civil, a cargo do tenente Soter, e os vários oficiais de serviço da Marinha e do Exército.
Os combatentes, não tinham estratégia, nem número o suficiente para afirmar na prática o que sua teoria louvava. O resultado, foi a prisão dos revoltosos pelas tropas vindas do Forte do Leme. Ao todo, foram encarcerados cerca de 1.500 integralistas. Plínio Salgado (Líder máximo do movimento), buscou exílio em Portugal, onde tentou reorganizar o movimento. Os integralistas, sem perceberem, fortaleceram ainda mais o governo de Getúlio, que reorganizou o país. Os homens fazem história, mas em condições determinadas e sem pleno domínio das circunstâncias.
Ontem, um grupo de pessoas invadiu e depredou órgãos públicos do governo federal. Agora chamados de “Bolsonaristas” a extrema-direita renovou seu compromisso de desordem e desequilíbrio democrático, com o uso da violência em nome de DEUS, da PÁTRIA e da FAMÍLIA. Não sou um apreciador do Direito e acredito não ter nenhuma espécie de vocação para todos aqueles artigos e parágrafos sem fim. Contudo preciso, dentro da minha realidade, analisar os acontecimentos à minha volta para não me tornar alheio ao mundo. Temos códigos e leis que nos amparam na punição dos culpados. A história se repetiu como farsa, bem diante dos nossos olhos e a ação dos órgãos de defesa foi no mínimo reclusa. Não é preciso ser Mestre em Direito Penal para entender que Depredação de Patrimônio Público é crime, o uso da força e da violência para depor representantes eleitos pelo povo é crime, a apologia a um golpe de estado é crime. A lei tem que se fazer presente também para cidadão branco da “classe A”. Professores, estudantes, enfermeiros e funcionários públicos já à experimentaram por muito menos. Homens negros morrem em ações policiais por serem confundidos com bandidos na rua. Indígenas sofrem e morrem em ações policiais de “reintegração de posse”. Uma ação covarde contra os povos originários. Tudo isso em nome da lei. O que nos perguntamos é: aonde estavam as forças armadas do 17 de junho 2013 com toda aquela força? É no mínimo intrigante entender que neste país só temos armas, balas, policiais e militares, quando o alvo são professores.
Somos uma nação, Republicana (por imposição), Federativa (por imposição) e DEMOCRÁTICA (por vontade própria). A única coisa que conquistamos, como povo, foi a DEMOCRACIA. Não podemos e não vamos abandoná-la, mesmo diante de uma FARSA velada de patriotismo com um líder covarde e omisso escondido nos Estados Unidos da América. Está mais do que na hora de limparmos essa baderna e organizarmos este país.
Hegel estava certo ao afirmar que a história se repete ao menos duas vezes. E Marx, mais certo ainda ao afirmar que a segunda vez é uma farsa.
Por Johnew Sousa, acadêmico do curso de História